A melhor saída para Bolsonaro, portanto, seria tentar diminuir sua pena, algo que o relator do texto na Câmara, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), já disse que pretende incluir no texto. Eduardo, no entanto, tem sustentado que o pai não está em condições de decidir sobre o assunto. "A PGR me denuncia por coação, mas quem verdadeiramente está sob coação é meu pai", publicou o deputado em seu perfil no X na última quinta-feira.
As ameaças de sanções aos chefes do Legislativo, que decidem sobre o avanço de quaisquer pautas no Congresso, colocaram em xeque ainda a continuidade do mandato do parlamentar. Na última semana, Motta impediu uma manobra do bloco da minoria na Câmara para salvar o mandato do deputado por exceder o número de faltas. Em outra frente, o Conselho de Ética abriu um processo por quebra de decoro que pode também resultar em cassação. Alcolumbre, por sua vez, já havia criticado o parlamentar no plenário do Senado, no dia 18.
A inflexibilidade sobre a anistia, no entanto, não é o único problema criado por Eduardo, na visão de caciques partidários da direita. O deputado já deixou claro que, se seu pai não puder concorrer no próximo ano — cenário mais provável —, ele será o candidato ao Planalto em 2026. A teimosia atrapalhou os planos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que, embora seja o presidenciável que melhor pontua no campo da direita e da centro-direita, não tem a bênção do clã Bolsonaro.
Em um cenário sem Tarcísio, Gilberto Kassab, presidente do PSD, disse que considera apoiar não só um, mas dois candidatos para o próximo ano. Ambos são filiados à sigla que preside. "O PSD tem o seu rumo. Ou é com o governador Tarcísio, ou com o governador Ratinho Júnior ou o Eduardo Leite. Isso é algo que está pacificado dentro do partido e, portanto, vamos aguardar (a decisão do Tarcísio)", afirmou a jornalistas nesta sexta-feira. Há, ainda, os governadores Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) no páreo. Ambos já lançaram suas pré-candidaturas. Nenhuma, no entanto, tem apoio da família Bolsonaro.
Desunião
Nesta sexta-feira, o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro, cobrou uma união no campo da direita. Sem citar diretamente Eduardo, disse que a falta de entendimento pode entregar as eleições do próximo ano para os adversários.
"Já está passando de todos os limites a falta de bom senso na direita, digo aqui a centro-direita, a própria direita e seu extremo. Ou nos unificamos, ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez. Por mais que tenhamos divergências, não podemos ser cabo eleitoral de Lula, do PT e do PSol. Não podemos fazer isso com o Brasil", escreveu.
O blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo, que tem atuado com Eduardo nos Estados Unidos, retrucou. "É verdade, Ciro. Concordo com a falta de bom senso. Acredita que ainda tem meia dúzia que leva fé em acordos Caracu com o establishment? Que tem velhaco que não entendeu que a crise diplomática com os EUA só tem fim com anistia ampla, geral e irrestrita? É gente sem noção", postou.
Na tréplica, Ciro Nogueira insinuou que uma nova derrota da direita em 2026 significaria a permanência de Bolsonaro na prisão. "Acho uma crueldade deixar um homem de bem e honesto, como Jair Bolsonaro, preso por muito mais tempo, nas condições de saúde em que ele está, ameaçando a vida dele, caso a oposição não vença as eleições do ano que vem", frisou. Não existe, entretanto, uma forma legal de o ocupante do Planalto livrar diretamente o ex-presidente da prisão. Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) já entendeu, em fevereiro deste ano, que não cabe anistia ou indulto a quem comete crimes contra a democracia.
Com perda de mandato mais próxima, Eduardo tem, ainda, outro problema pela frente: corre o risco de ficar sem o apoio de interlocutores do presidente Donald Trump. Os afagos do republicano a Lula na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira, mostraram que ele está disposto a conversar com o Brasil, o que enfraqueceria a retórica bolsonarista.