O Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, deve visitar os brasileiros detidos por Israel na Faixa de Gaza na sexta-feira (3). Os brasileiros integravam a flotilha Global Sumud, com embarcações que visavam a levar ajuda humanitária à região.
Segundo o Itamaraty, a delegação brasileira era composta por 17 integrantes. Na quarta (1º), a marinha israelense interceptou algumas das embarcações da flotilha. Ao menos 12 brasileiros foram detidos. O anúncio de que o governo brasileiro fará uma visita consular aos presos foi feito após reunião do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, com deputados federais para discutir a situação dos brasileiros em Gaza.
Segundo a deputada Erika Kokay (PT-DF), a visita não pôde ser feita nesta quinta (2) porque é quando se celebra o Yom Kippur, feriado mais sagrado do calendário judaico.
“Amanhã há uma confirmação dessa visita, e o consulado e a representação diplomática brasileira vão poder conversar”, declarou Kokay. Segundo ela, os brasileiros serão levados para a prisão.
Em nota divulgada mais cedo, o Itamaraty condenou a operação da marinha israelense e relembrou o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais. De acordo com Kokay, a situação é considerada um “sequestro” porque aconteceu em águas internacionais, e não na zona marítima do território palestino.
Depois da prisão, os brasileiros devem ser questionados sobre a deportação. Se não concordarem, passarão por um processo de julgamento.
Para a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS), o episódio foi uma "violação grave" do direito internacional. "A palavra sequestro é fundamental, porque eles foram abordados em águas internacionais, violando todos os acordos de tráfego em águas internacionais", declarou.
Melchionna acusou o governo israelense de estar fazendo interrogatórios "ilegais" como "mecanismo de terror e tortura psicológica". De acordo com ela, foi dito ao ministro Mauro Vieira que os brasileiros já teriam os julgamentos marcados para esta sexta.
O líder do PT (Partido dos Trabalhadores) na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), reforçou que não havia motivo para uma intervenção na missão humanitária e que há preocupação por parte do Brasil com a "truculência" por parte das forças militares israelenses.
Segundo ele, o plano do governo é realizar a visita amanhã, falar e verificar a saúde de cada um dos brasileiros para, assim, providenciar um desfecho rápido para a questão. Até o momento, ele diz, o governo brasileiro segue sem comunicação com os detidos.
"A gente espera que aconteça a visita consultar, porque, vindo de Israel, tudo pode acontecer", afirmou.
O deputado João Daniel (PT-CE), que também participou do encontro com Vieira, afirmou que o governo federal já tem conhecimento de 10 dos 12 brasileiros que estavam na embarcação. Dentre eles, a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) e o ativista Thiago Ávila.
No entanto, dois brasileiros ainda seguem desaparecidos: João Leonardo Cavalcanti Aguiar Costa e Miguel Bastos Viveiros de Castro.
“Amanhã teremos informações mais detalhadas sobre a situação dos brasileiros que lá se encontram. Nossa grande preocupação é que, além do sequestro e prisão dos brasileiros, incluindo, entre eles, a nossa deputada Luizianne Lins, há dois brasileiros que se encontram desaparecidos até o momento”, disse Daniel a jornalistas.
De acordo com a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o Ministério das Relações Exteriores está apurando o paradeiro dos brasileiros desaparecidos. Feghali destacou que ela e os demais deputados levantaram na reunião com Vieira a necessidade um "isolamento maior" de Israel, envolvendo um rompimento das relações comerciais com o país.
A flotilha Global Sumud (palavra que significa "resiliência" em árabe) é uma iniciativa formada por civis com o objetivo de romper o cerco feito por Israel a Gaza por mar e abrir um corredor humanitário. A flotilha conta com barcos que saíram de vários portos ao redor do mundo. Pessoas de 57 países participam da missão.