O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou às 10h desta terça-feira (23) na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Em sua fala, que conteve aproximadamente 15 minutos, o mandatário brasileiro abordou temas centrais como a defesa do multilateralismo, da soberania nacional, cooperação internacional, uma agenda progressista voltada para direitos sociais e sustentabilidade.
Lula também saiu em defesa do Poder Judiciário, após o governo dos Estados Unidos anunciar sanções contra exportações e autoridades brasileiras, incluindo familiares de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
"A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade", disse Lula.
O discurso ocorre em meio a uma tensão com os EUA. Na segunda-feira (16), a Casa Branca anunciou a revogação de vistos da esposa e dos filhos do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), além de restrições contra o advogado-geral da União, Jorge Messias, e outras cinco pessoas.
Recentemente, o governo americano também anunciou sanções contra exportações e autoridades brasileiras, incluindo familiares de ministros do STF.
"Democracia e soberania são inegociáveis"
Segundo o presidente brasileiro, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que deve cumprir 27 anos e 3 meses de prisão, por participação em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 revela que o Brasil não negocia democracia e soberania.
"Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas", destacou.
"Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela. Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral", prosseguiu.
Recado aos EUA após ataques contra barcos da Venezuela
Em discurso, Lula também comentou que o diálogo com a Venezuela deve ser mantido.
“Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento. Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias. A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela”, declarou o presidente.
Na última sexta-feira (19), Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, divulgou um vídeo nas redes sociais mostrando um ataque a um barco que supostamente estava carregado com drogas. Ele ressaltou ainda que três pessoas foram mortas.
O líder republicano afirmou que a embarcação estava em águas internacionais, na área de responsabilidade do Comando Sul dos Estados Unidos, que abrange a América Latina e o Caribe.
Segundo o presidente brasileiro, a América Latina e Caribe, vivem "um momento de crescente polarização e instabilidade", e que manter a região como "zona de paz" é "a prioridade".
"Somos um continente livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos. É preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo. A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas", destacou Lula.
Outro ponto destacado pelo petista foi a guerra na Faixa de Gaza. Para Lula, "nada justifica o genocídio" que acontece no local.
No dia 12 de setembro, a Assembleia Geral votou a favor, por ampla maioria, em uma declaração que delineia "medidas tangíveis, com prazo determinado e irreversíveis" em direção a uma solução de dois Estados entre Israel e o território palestino.
O texto condena os ataques contra Israel pelo Hamas, em 7 de outubro de 2023 e desencadearam a guerra em Gaza. Ainda assim, também critica os ataques de Israel contra civis e infraestrutura civil em Gaza, o cerco ao território palestino e a fome, "que resultaram em uma catástrofe humanitária devastadora e uma crise de proteção".
Para Lula, "os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza. Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente".
"Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo. Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente. Expresso minha admiração aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva", continuou.
"O povo palestino corre o risco de desaparecer. Só sobreviverá com um Estado independente e integrado à comunidade internacional", completou o presidente brasileiro.
Por tradição, desde 1955, o Brasil é sempre o primeiro país a discursar na Assembleia, seguido pelos Estados Unidos.
Lula está acompanhado de uma comitiva de ministros, entre eles Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Márcia Lopes (Mulheres), Jader Barbalho (Cidades), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública).
A reunião de 2025 marca os 80 anos da instituição e deve servir como palco para assuntos prioritários da comunidade internacional, como os conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia, a defesa da democracia e o meio ambiente. A edição deste ano também ocorre em um ambiente de intensas disputas políticas e reconfiguração do papel dos Estados Unidos no mundo.