Esta será a décima vez que Lula assume o púlpito da ONU para abrir os debates de chefes de Estado.
Na segunda-feira (16), a Casa Branca anunciou a revogação de vistos da esposa e dos filhos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além de restrições contra o advogado-geral da União, Jorge Messias, e outras cinco pessoas.
As medidas foram tomadas no âmbito da Lei Magnitsky e representam uma retaliação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decisão que desagradou o governo Trump.
O presidente brasileiro será acompanhado por uma comitiva de ministros, entre eles Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Márcia Lopes (Mulheres), Jader Barbalho (Cidades), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública).
A composição da equipe enfrentou dificuldades por restrições de vistos impostas pelos EUA.
Discurso de Lula
As falas de Lula devem ter como eixos centrais a defesa do multilateralismo, da soberania nacional e cooperação internacional e de uma agenda progressista voltada para direitos sociais e sustentabilidade.
Ele deve reforçar a necessidade de reformas no Conselho de Segurança da ONU, além de chamar países a se engajarem no combate às mudanças climáticas, com destaque para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA), em novembro.
Outro ponto previsto é a reafirmação da soberania nacional e do princípio da não intervenção, uma crítica ao aumento de tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil e outras nações. O tom do discurso pode ser ajustado até o último minuto, especialmente diante das sanções mais recentes impostas por Washington a autoridades brasileiras.
Brasil e EUA
O pano de fundo da participação brasileira é a pior crise diplomática em mais de 200 anos de relações com os Estados Unidos. O governo Trump anunciou sanções contra exportações e autoridades brasileiras, incluindo familiares de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Apesar de estarem lado a lado na tribuna da ONU, não há expectativa de encontro formal entre Lula e Donald Trump. Assessores da Presidência afirmam que, no máximo, pode haver um aperto de mãos, mas sem conversas substanciais. O Serviço Secreto americano define os horários de chegada do presidente dos EUA, o que pode evitar até mesmo que ambos se encontrem nas antessalas da ONU.
Enquanto Lula deve centrar sua fala em democracia, cooperação e clima, Trump deve usar o púlpito para reforçar sua política de “America First”, justificando medidas unilaterais, cortes de financiamento à ONU e críticas a propostas ambientais globais.
Além disso, os EUA foram excluídos da segunda edição do evento “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, articulado pelo Brasil e aliados e marcado para quarta-feira (24), em Nova York. A decisão reflete o clima de tensão nas relações bilaterais.
Por que o Brasil abre os discursos da ONU?
O Brasil é tradicionalmente o primeiro país a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU desde 1955. A prática se consolidou porque, à época, o país se voluntariava para iniciar os trabalhos quando outras nações evitavam abrir os debates. Desde então, a tradição se mantém, reforçando a visibilidade internacional do Brasil no cenário diplomático.
(Com informações de Américo Martins, Priscila Yazbek e Jussara Soares, da CNN)