Esta segunda-feira (13/10) é determinante para o rumo da situação na Faixa de Gaza — e, em uma perspectiva mais ampla, do futuro imediato do Oriente Médio. Como parte da primeira fase do acordo de paz de 20 pontos proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Hamas aceitou entregar os 20 reféns israelenses vivos que ainda tem em mãos, além dos restos mortais de 28; Israel, em troca, comprometeu-se a libertar 250 presos ligados ao Hamas e 1.700 palestinos detidos durante a guerra. Ontem, havia discussões de última hora, com o Hamas tentando trocar alguns nomes da lista de presos a serem soltos. A entrega dos sequestrados estava prevista para ser finalizada por volta das 8h no horário local, início da madrugada desta segunda no Brasil.
Logo após a troca esperada, começará, no Egito, a Cúpula pela Paz, uma reunião de líderes internacionais destinada à formalização do acordo e a discutir os próximos passos. Trump estará em Sharm-el-Sheik. Antes, irá a Tel-Aviv para encontrar os reféns libertados pelo Hamas. Para a cúpula, também são aguardados o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres; os primeiros-ministros da França, Emmanuel Macron; do Reino Unido, Keir Starmer; e da Itália, Giorgia Meloni; além do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e de representantes de países árabes. Tanto Israel quanto o Hamas não estarão presentes.
Nesse domingo (12/10), uma fonte diplomática, que falou à agência de notícias AFP sob anonimato, afirmou que os países mediadores do acordo de cessar-fogo assinarão durante a cúpúla um documento no qual se colocarão como garantidores da paz na região. Esse grupo deverá ser formado por EUA, Egito, Catar e, provavelmente, Turquia.
Desarmamento?
A instabilidade crônica na região, contudo, não autoriza que simplesmente se imagine um futuro próximo livre de preocupações diárias e imensos desafios. No domingo, por exemplo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que o país obteve "enormes vitórias" na guerra, mas alertou que "a luta não acabou".
"Juntos, alcançamos enormes vitórias, vitórias que surpreenderam o mundo inteiro. E quero dizer a vocês: em todos os lugares onde lutamos, fomos vitoriosos, mas, ao mesmo tempo, devo dizer a vocês que a luta não acabou", afirmou o primeiro-ministro em discurso à nação.
Do lado do Hamas, surgiram declarações semelhantes, deixando em aberto a possibilidade de retomada da guerra. Uma das previsões para a segunda etapa do acordo de paz é a retirada do movimento palestino de qualquer nova administração de Gaza (o que o Hamas diz aceitar) e o desarmamento do grupo — ponto que os palestinos tentam evitar, ao menos de imediato.
Ao embarcar para a viagem a Israel, na tarde de domingo, Trump foi questionado sobre as declarações de Netanyahu. Respondeu prontamente: "A guerra acabou, ok?" E prosseguiu, prevendo que o fim das hostilidades se manterá: "As pessoas estão cansadas".
Uma fonte do Hamas próxima à equipe negociadora confirmou que o movimento não participará do novo governo de Gaza. "O Hamas não participará de maneira alguma na fase de transição, o que significa que renunciou ao controle da Faixa, mas continua sendo parte fundamental do tecido social palestino", disse a fonte. "O Hamas aceita uma trégua de longo prazo e que suas armas não sejam utilizadas em hipótese alguma durante esse período, exceto em caso de ataque israelense contra Gaza."
Uma das expectativas em relação à cúpula no Egito é justamente em relação à engenharia que será feita para um eventual desarmamento do Hamas e, ao mesmo tempo, uma garantia de que Israel será contida e impedida de recomeçar os ataques militares. A resposta começará com a definição de como será feita a administração da Faixa de Gaza a partir de agora. Trump propôs um governo provisório liderado por ele próprio. A sugestão enfrenta resistências, e a opção mais comentada nos bastidores pré-cúpula prevê apenas que a segurança seja garantida por uma força internacional de estabilização, com formação ainda a ser definida.