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100 mil razões para o luto: Brasil bate marca trágica em luta contra covid

País chega à estarrecedora marca de 100 mil mortes por covid-19 e supera o patamar de 3 milhões de casos. Enquanto o Judiciário e o Legislativo decretam luto oficial, presidente não comenta sobre a pandemia e aciona a secretaria de comunicação para rebater críticas

09/08/2020 às 23h52
Por: Fonte: Correio Brasiliense
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100 mil razões para o luto: Brasil bate marca trágica em luta contra covid

Mais de cem mil mortos por covid-19, em apenas cinco meses. A triste marca da pandemia impôs, ontem, uma dor lancinante em milhões de brasileiros que perderam familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, artistas e tantos outros na luta contra o novo coronavírus. Em protesto ou em silêncio, o país expressou o pesar por todos que sucumbiram a uma doença que, letal e altamente contagiosa, adquiriu proporções amazônicas. Como ocorre desde o início da pandemia, políticos e outras personalidades da República se manifestaram sobre a covid-19, enfermidade que deveria ser debatida prioritariamente por autoridades sanitárias, mas foi duramente atingida pelo mal da politização. Com mais de três milhões de casos e uma quantidade de mortos , o Brasil chora pelas vítimas da covid-19, sem perspectivas de reduzir de maneira consistente o avanço mortal do vírus.

 

Em Brasília, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional decretaram luto oficial. O Palácio do Planalto, por sua vez, não seguiu o gesto. Pelo Poder Judiciário, o presidente do STF, Dias Toffoli, lamentou. “Somos uma nação enlutada, que sofre pela perda de familiares, amigos e pessoas do nosso convívio social. Jamais vivemos uma tragédia desta dimensão em nosso país”, publicou o ministro. Na véspera da comemoração do Dia dos Pais, Toffoli se solidarizou em especial às famílias vítimas da pandemia. “São filhas e filhos que não mais estarão com seus pais no dia especial de amanhã. São pais que não terão o que festejar neste domingo”, escreveu o ministro.

Pelo Legislativo, o luto estabelecido no Congresso foi de quatro dias, em solidariedade a todos os brasileiros afetados pela pandemia e às vítimas. “Hoje é um dos dias mais tristes da nossa história recente”, lamentou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no comunicado feito por ele no Twitter. Com a decisão, as sessões na Câmara dos Deputados e no Senado Federal serão retomadas na quarta-feira.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia também se pronunciou. “Chegamos à absurda marca de 100 mil mortos pela covid-19. Número que, infelizmente, já havia sido previsto lá atrás, ainda na gestão do ex-ministro Mandetta”, publicou nas redes sociais. Maia ressaltou que a convivência diária com a pandemia não pode “anestesiar” os brasileiros a ponto de “tratar com naturalidade esses números”. “Cada vida é única e importa”, disse.

 

Nas redes sociais, a marca dos 100 mil motivou manifestações bem mais contundentes. A pergunta “E daí?”, pronunciada pelo presidente Jair Bolsonaro em abril, quando o Brasil contou 5 mil mortes, veio em tom crítico ontem. As hashtags #Bolsonaro100Mil e #CemMileDaí, que relacionavam a quantidade de perdas ao presidente, estavam entre os dez assuntos mais comentados do Twitter.

Frequentador profissional das redes sociais, o presidente silenciou ontem sobre a covid. Publicou sobre reforma de aeroporto, exportação de mel natural, digitalização de serviços, operações PF. Compartilhou uma foto com a camisa do Palmeiras para parabenizar o clube pelo título paulista conquistado ontem. Mas pouco falou sobre a quantidade exorbitante de vítimas da pandemia no país.

Ontem, o ex-capitão se limitou a republicar a nota da assessoria de comunicação do Planalto. “Lamentamos as mortes por Covid, assim como por outras doenças. Nossas orações e nossos esforços têm a força de um governo que dá tudo para salvar vidas”, dizia uma das mensagens, seguida pela afirmação de que “todas as vidas importam: as que vão e as que ficam”. Em outra publicação, o governo federal tentou isentar a responsabilidade sobre a centena de milhares de vítimas da pandemia. “Toda a assistência possível à saúde dos brasileiros foi dada.”

 

Pazuello também divulgou nota. “Não se trata de números, planilhas ou estatísticas, mas de vidas perdidas que afetam famílias, amigos e atingem o entorno do convívio social", disse o ministro interino. O general afirmou que o trabalho de enfrentamento à doença ocorre 24 horas por dia “em parceria com estados e municípios para garantir que não faltem recursos, leitos, medicamentos e apoio às equipes de saúde”.

Negacionismo

O tom foi bem mais duro entre ex-integrantes do governo Bolsonaro. Luiz Henrique Mandetta. O médico coloca no colo de Bolsonaro a culpa pelos altos patamares. “Cem mil vidas perdidas. Negacionismo, desprezo à ciência, perda de credibilidade e ausência de liderança. Solidariedade às famílias”, publicou ontem nas redes sociais.

Sergio Moro também se manifestou. “Não podemos nos conformar, nem apenas dizer #CemMilEdaí. São mais de 100 mil mortos; 100 mil famílias que perderam entes para a Covid. Que a ciência nos aponte caminhos e que a fé nos dê esperança”, tuitou o ex-ministro da Justiça. A mensagem foi rebatida na mesma plataforma pela secretaria de comunicação do Planalto. “Para um Governo, muito mais do que palavras bonitas, a melhor forma de mostrar que se importa é trabalhando. Estamos todos do mesmo lado da trincheira na guerra que foi imposta ao mundo todo. E o Governo do Brasil tem trabalhado sem descanso desde o começo”, informou o texto.

 

Instituições e entidades de saúde também lamentaram as mortes com discursos carregados de críticas ao governo e levantando a bandeira de melhorias ao Sistema Único de Saúde (SUS). O diretor científico da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, César Eduardo Fernandes, ressaltou que os números são reflexos do descompasso entre as instâncias de coordenação. “A perda de 100 mil vidas é chaga que marca constrangedoramente a história do Brasil. É algo que não há como definir em palavras”, lamentou.

Para ele, a pandemia traz lições dolorosas para a sociedade e para a classe política em particular, que precisa valorizar a saúde. “Isso passa por mais investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), gestão responsável, combate à corrupção, valorização dos recursos humanos”, completou Fernandes, lamentando, ainda, a perda de médicos e profissionais da saúde no âmbito da pandemia. “O impacto poderia ser menor, todos sabemos, mas aqui faltou uma entidade forte para defender a classe”, criticou.

O dia também foi marcado por protestos e o palco foi, mais uma vez, a praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. “'Quando o Brasil chega à triste estatística de 100 mil brasileiros mortos pela covid-19, o Rio de Paz pergunta: por que somos o segundo país em número de mortos?”, dizia o cartaz fixado pelos organizadores na areia da praia. Quem participou do ato foi o taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva, o pai que perdeu o filho de 25 anos para a doença e, no protesto passado, recolocou as cruzes derrubadas por um opositor.

 

 

Infecção começa a desacelerar

A covid-19 varreu 100.477 vidas de brasileiros, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde. Com o acréscimo de 49.970 casos, o número de infectados bateu a margem de 3 milhões (3.012.412) ontem. Os números indicam que as previsões dos principais núcleos de pesquisa da pandemia no país estavam certas.

O Portal Covid-19 Brasil indicava que a barreira dos 100 mil mortos e 3 milhões de casos seria batida com o fechamento da semana 32, neste sábado, o que ocorreu. Por outro lado, o acumulado semanal corrobora para a tendência de que o país começa a frear as novas infecções. Foram somadas mais 6.914 novas mortes e 304.535 casos. Isso significa menos 200 fatalidades (queda de 3%) e menos 8.829 infecções (-3%) do que na comparação com a semana 31.

Mesmo lidando com altos patamares e observando uma retomada do crescimento em junho, a análise de casos semanais de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) dá sinais de que o Brasil inicia uma leve queda de novas infecções pela covid-19, como indica o último Boletim InfoGripe, produzido pela Fiocruz.

Por enquanto, somente seis estados acumulam menos que mil mortes. Tocantins (444), Mato Grosso do Sul (492), Roraima (547), Acre (559), Amapá (601) e Rondônia (940). Quem lidera o ranking brasileiro é São Paulo, que, neste sábado, ultrapassou 25 mil óbitos (25.016) e concentra um quarto do total das vítimas do país.

O Rio de Janeiro é o segundo com mais fatalidades, com 14.070 vítimas da doença. Os dois são os únicos estados que têm mais de 10 mil mortes. Em seguida estão: Ceará (7.951), Pernambuco (6.920), Pará (5.871), Bahia (3.899), Amazonas (3.364), Minas Gerais (3.449), Maranhão (3.154), Espírito Santo (2.720), Rio Grande do Sul (2.346), Paraná (2.270), Mato Grosso (2.061), Rio Grande do Norte (1.970), Paraíba (1.983), Goiás (2.008), Distrito Federal (1.712), Alagoas (1.665), Sergipe (1.577), Piauí (1.469) e Santa Catarina (1.419).

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