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Quais cardeais podem ser o próximo papa, de acordo com especialista em Vaticano

Apesar de qualquer homem católico batizado poder, teoricamente, ser eleito papa, vaticanólogo elenca 12 nomes principais dentre 22 “papáveis” que figuram em relação de 252 cardeais

Samuel Barbosa
Por: Samuel Barbosa Fonte: Noticia Certa
22/04/2025 às 08h44 Atualizada em 22/04/2025 às 08h55
Quais cardeais podem ser o próximo papa, de acordo com especialista em Vaticano

Apesar de qualquer cristão católico e batizado do sexo masculino poder ser eleito papa, tem sido regra, desde o fim do século 14, que o cargo mais alto da hierarquia da Igreja Católica seja ocupado por cardeais. De 252 atuais membros do Colégio Cardinalício, 138 podevotar em um conclave — processo de escolha de um novo líder —, embora o direito canônico estabeleça o número de eleitores em 120 

Desse número, o jornalista vaticanólogo Edward Pentin — correspondente especialista em Vaticano há mais de 15 anos e autor do livro The next popethe leading cardinal candidates (O próximo papa: os principais candidatos a cardeal), de 2020 — seleciona 12 nomes prováveis para substituição do papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21/4). 

A seguir, confira os nomes levantados por Pentin. 

Cardeal Péter Erd — Hungria

Arcebispo Metropolitano de Esztergom-Budapeste, Hungria, desde 2003, Erd tem 72 anos. Ordenado sacerdote em 1975, passou por serviço paroquial e pela universidade, onde foi professor e pesquisador em universidades húngaras, argentinas e americanas. Durante esse tempo, também foi escrivão e juiz eclesiástico, tendo escrito mais de 250 artigos e 25 livros. 

Defensor da estrutura hierárquica da Igreja, Péter é considerado um religioso culto, cauteloso e avesso a riscos. Foi um dos cardeais mais jovens a serem elevados ao Colégio Cardinalício, aos 51 anos em 2003, e é indicado como alguém que poderia “restaurar” o Vaticano após o pontificado de Francisco. 

De acordo com Pentino cardial tem visão benigna a respeito do Islã, da Igreja Ortodoxa e do diálogo com religiões não cristãs. Embora seja a favor de “apoio pastoral para aqueles que sofrem de atração pelo mesmo sexo”, é firmemente contra a aceitação de uniões homossexuais e fortemente “pró-vida”. 

Cardeal Matteo Zuppi — Itália

Arcebispo de Bolonha, na Itália, o cardeal Matteo Maria Zuppi, nascido em Roma, tem 69 anos. Descrito por Pentin como “estrela em rápida ascensão no episcopado italiano”, faz parte da ala política de esquerda da Igreja Católica e provavelmente daria continuidade ao legado de Francisco.  

Ele ingressou no seminário após se formar em literatura e filosofia, em 1977, aos 22 anos. Ordenado em 1981, foi pároco, assistente eclesiástico, reitor de igreja e chefe de conselho sacerdotal e bispo auxiliar antes de ser nomeado arcebispo de Bolonha pelo papa Francisco, em 2015. 

Parte da comunidade leiga internacional de Santo Egídio tem “preocupação de longa data com pobres e marginalizados”. Apelidado como “padre de rua”, ele prega a rejeição do ódio e a concepção de solidariedade autêntica, abraça o pluralismo religioso e a fraternidade, bem como a ida a periferias para ajudar os que mais precisam — de crianças e idosos abandonados a viciados em drogas. 

Zuppi também “tem sido especialmente fervoroso em acolher homossexuais e o ‘amor’ homossexual”, bem como os ‘recasados’ civilmente”; além de buscar sempre envolver muçulmanos, judeus e migrantes nas próprias preocupações. A mídia italiana afirma que ele tem ligações com partidos de esquerda e que prestou homenagem, em funerais, a radicais de extrema-esquerda pró-aborto. 

Cardeal Robert Sarah - Guiné

Ex-funcionário de alto escalão do Vaticano, o cardeal guineense Robert Sarah tem 79 anos e mentalidade tradicional e ortodoxa. Ordenado sacerdote em 1969, foi professor, reitor de seminário e pároco.  

Apelidado de “bispo bebê” por João Paulo II, foi o mais jovem bispo do mundoEle tinha 34 anos, em 1979, quando foi nomeado arcebispo de Conacri, capital da Guiné — onde foi colocado em “lista negra” da ditadura marxista de Ahmed Sékou Touré.  

Em 2001, foi nomeado secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 2013, participou do conclave que elegeu Francisco e, em 2014, foi nomeado prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cargo que ocupou até 2021. 

Ele defendeu a comunhão na língua e se opôs à intercomunhão entre católicos e não católicos. Também discursou sobre “males contemporâneos do aborto, da agenda homoafetiva e do islamismo” e escreveu um livro conjunto com Bento XVI sobre a crise do sacerdócio. Apesar de ter renunciado ao cargo que exercia no Vaticano, é muito presente em redes sociais e tem muitos apoiadores. 

Cardeal Luis Tagle — Filipinas 

Nascido em Manila, nas Filipinas, o cardeal Luis Antonio Gokim Tagle tem 67 anos e é pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização desde 2019, quando passou a residir em Roma a convite de papa Francisco. Formado em seminário jesuíta filipino, foi ordenado sacerdote em 1982 e logo tornou-se diretor espiritual, professor e posteriormente reitor de seminário. 

Enviado aos Estados Unidos, participou por 15 anos de projeto de pesquisa sobre a história do Concílio Vaticano II. De volta às Filipinas, foi vigário episcopal para religiosos, pároco e, em 2001, tornou-se bispo da Diocese de Imus, nomeado por João Paulo II, até ser elevado ao cargo de arcebispo de Manila, capital, por Bento XVI, em 2011. 

Em 2020, Francisco designou Tagle como cardeal-bispo — o que, segundo Pentin, indicava que o filipino poderia ser “um sucessor favorito na época”. Apelidado de ‘Francisco asiático’, Luis Antonio possui atributos semelhantes aos de Jorge Bergolio, além de uma vasta experiência pastoral e administrativa combinada à formação teológica e histórica. Embora demonstre “lado brincalhão”, afinidade com jovens e casualidade durante celebrações de missas, é conhecido como “negociador astuto” experiente em táticas políticas.  

Taglse manifestou contra o aborto e a eutanásia, mas defende a comunhão para casais que vivem juntos de forma conjugal sem matrimônio e outras questões relacionadas a homossexualidade. Também se opõe ao uso de linguagem “áspera” ou “severa” a respeito de certos pecados e acredita que a Igreja precisa “aprender” sobre os próprios ensinamentos de misericórdia devido a “mudanças em sensibilidades culturais e sociais”. É defensor ativo de questões como ecologia e como a “bondade de todas as religiões”. 

Cardeal Malcolm Ranjith — Sri Lanka

Arcebispo Metropolitano de Colombo, Sri LankaRanjith tem 77 anos e ingressou no seminário aos 18, depois de ser educado por irmãos Lassalistas. Enviado a Roma, foi ordenado sacerdote em 1975 pelo Papa São Paulo VI, na Praça de São Pedro.  

Após estudar na Itália, retornou ao Sri Lanka e se envolveu na vida pastoral da cidade em que nasceu, “onde ajudou pescadores pobres em uma vila sem água encanada, eletricidade ou moradia adequada”. Foi nomeado bispo de Ratnapura em 1995 pelo Papa João Paulo II e, em 2001, retornou a Roma como secretário adjunto da Congregação para a Evangelização dos Povos e presidente das Pontifícias Obras Missionárias de Ajuda. 

Em 2004, foi nomeado núncio apostólico — espécie de diplomata da Igreja Católica — na Indonésia e no Timor-Leste, antes de ser elevado a arcebispo. Fluente em 10 idiomas, ele é considerado conservador, com “visão profundamente pastoral”, e “bispo das crianças”, devido ao amor pela catequese.  

Parte de sociedade tradicional, o Sri Lanka, Ranjith evita se envolver em questões relacionadas a casamento entre pessoas do mesmo sexo e questões de vida em geral, mas adota “visão intransigente” sobre elas, defendendo ensinamentos da Igreja e condenando “colonização ideológica”. Com o papa Francisco, manteve relação tranquila e compartilha preocupação pelos pobres, mas defende a pena de morte em certos casos e o capitalismo, em rejeição ao socialismo. Em 2024, proibiu meninas de servirem no altar em paróquias da arquidiocese que comanda. 

Cardeal Pietro Parolin — Itália

Secretário de Estado do Vaticano desde 2013, o italiano Pietro Parolin tem 70 anos e é o membro de mais alto escalão do conclave. Ingressou no seminário aos 14 anos e foi ordenado sacerdote aos 25, em 1980. Em 1986, se tornou formalmente diplomata pelo Vaticano, tendo trabalhado em países como Nigéria, México e Espanha, além de ter dirigido relações com Vietnã, Coreia do Norte, Israel e China.  

Desde 2014, faz parte do conselho interno de cardeais que aconselhavam o papa Francisco sobre a reforma da Igreja Católica. Segundo Pentin, “Pietro Parolin é há muito tempo altamente considerado por diplomatas seculares como um representante papal confiável e de confiança no cenário mundial, alguém que parece estar em uma trajetória papal semelhante à do ex-diplomata Papa São Paulo VI”. Os críticos, porém, acreditam que ele seja um “progressista modernista”. 

Especialista em questões relativas ao Oriente Médio e à situação geopolítica da Ásia, é conhecido por defender pautas como desarmamento nuclear, aproximação com países comunistas e mediação. Apesar de ter sido coroinha quando jovem, nunca foi responsável por uma paróquia, uma vez que a carreira sacerdotal foi dedicada à diplomacia e à administração do Vaticano. 

Cardeal Pierbattista Pizzaballa — Itália

Patriarca Latino de JerusalémPierbattista Pizzaballa tem 60 anos e nasceu na Itália. Ingressou em seminário franciscano aos 11 anos e, aos 25, em 1990, foi ordenado sacerdote pelo então arcebispo de Bolonha. No mesmo ano, foi para Jerusalém, durante a Primeira Intifada, onde foi professor assistente em universidade, vigário-geral e superior em mosteiro. 

Em 2004, aos 39 anos, foi nomeado o 167º Custódio da Terra Santa, cargo que ocupou por 12 anos. Em 2016, o papa Francisco o designou administrador apostólico da sede vacante do Patriarcado, com dignidade arquiepiscopal — cargo que nos últimos 40 anos foi ocupado por árabes. Com a administração bem-sucedida, Pizzaballa foi nomeado, em 2020, Patriarca Latino de Jerusalém. Em 2023, foi elevado a cardinal, o primeiro a residir no Estado de Israel. 

Com o conflito em Gaza iniciado apenas uma semana depois, se ofereceu como refém em troca de libertação de crianças em posse do Hamas. Ele teria se esforçado para tratar árabes e israelenses com “equanimidade, mas sem dúvida com mais simpatia pelo povo palestino, que ele considera ‘ainda aguardando direitos, dignidade ou reconhecimento’. 

Apesar disso, “pouco se sabe sobre a teologia ou as posições doutrinárias” de Pizzaballa, uma vez que ele raramente aborda questões controversasPentin indica, porém, “desejo de respeitar as tradições e práticas ortodoxas da Igreja, mantendo-se, ao mesmo tempo, aberto à modernidade”; e reconhecimento de período confuso da história da Igreja, mas sem o desejo de voltar a uma era passadaEnfatiza preocupação com migrantes, diálogo inter-religioso e justiça social.