O primeiro trimestre de 2025 ainda não acabou, mas o Distrito Federal já soma números astronômicos referentes à queda de energia. A CEB Ipes, responsável pela iluminação pública da capital, registrou, até o momento, 25 mil atendimentos para corrigir falta de luz nas ruas do DF, número equivalente a 12 ocorrências por hora.
Uma das vias que sofrem mais reclamações em relação à baixa luminosidade é a Estrada Parque Dom Bosco (EPDB), que corta a região do Lago Sul.
O Metrópoles viu de perto a escuridão na via, na noite dessa segunda-feira (24/3). É perceptível que, mesmo com os postes ligados, a estrada é mal iluminada.
Solicitado pela reportagem, o levantamento referente às ocorrências na iluminação pública da capital faz um recorte entre 1º de janeiro e 24 de março. Nos anos anteriores, as queixas de falta de energia sempre passaram de 100 mil. Em 2022, foram 131 mil atendimentos; em 2023, 176 mil; e em 2024, 124 mil.
Os apagões repentinos e a demora para o restabelecimento dos serviços incomodam moradores e causam prejuízo a comerciantes. O Metrópoles foi às ruas nessa segunda-feira (24/3) para ouvir a população, que é quase unânime em dizer que são precários os serviços prestados pela Neoenergia e pela CEB Ipes.
O atendente de uma tabacaria na 115 Norte Carlos Emanuel Conceição, 21 anos, tem apenas oito meses no emprego atual, mas já presenciou ao menos quatro quedas de energia. “Quando ficamos sem luz, é um dia perdido, porque não podemos mais atender ninguém”, lamenta.
Além de ter que fechar a loja, Carlos enfrenta a perda de produtos. “Nos últimos apagões, nós perdemos R$ 4 mil reais em picolé, em média. Nenhuma autoridade fala em ressarcimento”, afirma.
Segundo o atendente, quando há queda de energia, o restabelecimento completo só acontece dentro de três a quatro horas. “Quando cai a noite é muito ruim, simplesmente não dá para ter atendimento. A gente liga na CEB, os clientes também. Eles falam: ‘Já estamos resolvendo’, e só.”
Funcionária de uma loja de calçados na mesma comercial, a atendente Maria do Socorro, 32, também presenciou ao menos cinco quedas bruscas de energia nos últimos meses. “Sempre que isso acontece, a gente fica duas, três horas sem luz. Prejudica muito o atendimento, porque a gente é obrigado a fechar a loja”, relata.
“Também temos receio em relação à segurança, pois, quando escurece, a população em situação de rua toma conta e aí a gente fica à mercê.”
O chefe de cozinha Anastácio Araújo, 50, trabalha há 30 anos em um restaurante na 115 Norte e é morador da 715 Norte. “Tenho visto muitas quedas de energia nos últimos três anos, principalmente depois que entrou essa nova empresa aí. Inclusive, a gente perdeu um exaustor há cerca de dois meses. Ninguém tá nem aí”, conta o empresário.
“Na última sexta-feira, a casa estava lotada quando deu aquele apagão. Quando é assim, o ar-condicionado da cozinha é desligado, e a gente não pode ficar dentro por causa do calor. Mesmo assim nós tentamos na sexta-feira, mas dois funcionários nossos passaram mal devido ao calor.”
“Das últimas três vezes em que percebi queda de energia lá em casa, a luz caiu à noite e só voltou no outro dia.”
O barbeiro Henrique Nery, 33, é mais um comerciante do DF que trabalha na Asa Norte e já viu inúmeros episódios de queda de energia. Ele atua na 115 Norte há dois anos. “Já percebi muita falta de luz, geralmente no período da tarde, por volta das 16h. Quando cai, demora mais de uma hora para voltar”, comenta o profissional.
“Em alguns casos, temos que fechar mais cedo. Não tem como trabalhar na escuridão. Isso nos gera um prejuízo de R$ 500, R$ 600 por dia.”
A engenheira florestal Yanka Alves, 28, mora no DF há pouco mais de um ano. Ela trabalha em um instituto federal com sede na 405 Norte e percebe quedas de energia diárias na região. “Já ouvi relatos de colegas que perderam computadores com tantas quedas”, explica.
Para Yanka, que chegou há pouco tempo ao DF, a iluminação pública também deixa a desejar. “Acho que [a iluminação] pode melhorar. Ainda não conheço tanto a cidade e não ando desacompanhada, mas sempre ouço histórias de violência contra mulheres e talvez um dos motivos sejam os espaços obscuros”, aponta. “Se fizéssemos um melhor consórcio de iluminação, talvez garantiríamos um pouco mais a segurança de forma geral.”