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Solidão preocupa especialistas em saúde pública
Para 2026, escritora aponta 8 formas de fazer novas conexões e retomar antigas e boas amizades
29/12/2025 11h49
Por: Robson Silva De Jesus Fonte: Agência Dino

A ciência vem acumulando evidências de que isolamento social e solidão não são apenas um desconforto emocional, mas resultam em pior saúde física, pior saúde mental e maior risco de morte precoce. Relatório lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada seis pessoas no mundo é afetada pela solidão e relaciona o problema a mais de 871 mil mortes anuais. Com base nas evidências mais recentes, o relatório convoca formuladores de políticas, pesquisadores e todos os setores a tratarem a “saúde social” com a mesma urgência que a saúde física e mental.

O médico Vivek Murthy, ex-secretário de saúde dos Estados Unidos e autor do livro “Juntos – O poder curativo da conexão humana em um mundo às vezes solitário”, diz ter se chocado ao descobrir quão graves são as implicações da solidão para a saúde. “Eu não tinha me dado conta de que o isolamento social estava associado a um aumento significativo de depressão e ansiedade, bem como a doenças cardíacas, demência e morte prematura. Esses fatores reforçaram a ideia de que a solidão é uma ameaça à saúde pública, afetando milhões de pessoas.”

O alerta também aparece no relatório do U.S. Surgeon General sobre solidão e isolamento, que coloca a conexão social como prioridade de saúde pública e resume o risco de forma didática: a falta de conexão pode ser tão nociva quanto fumar até 15 cigarros por dia. Por trás disso há números. Uma metanálise liderada por Julianne Holt-Lunstad e publicada na PLOS Medicine chegou ao resultado de que pessoas com relações sociais mais fortes têm cerca de 50% mais chances de sobrevivência do que pessoas com vínculos mais frágeis.

Importante: estar sozinho não é sinônimo de solidão. Solidão é a experiência subjetiva de desconexão e pode aparecer mesmo com agenda cheia. A OMS distingue solidão de isolamento social e lembra que pessoas de todas as idades podem vivê-la. Ainda assim, um em cada três idosos sentem-se solitários. Quando se torna crônica, os efeitos da solidão parecem mensuráveis. Um estudo de Harvard aponta que 21% dos entrevistados relataram sofrer de solidão grave. Quase 70% de adultos solitários relataram solidão socioemocional. Por exemplo, não se sentem parte de grupos significativos e não têm amigos próximos ou familiares suficientes. Números semelhantes de entrevistados relataram solidão existencial, com 65% dos adultos solitários relatando se sentirem profundamente desconectados dos outros e do mundo.

Estudo publicado na revista Nature indica que as mulheres idosas (30,9%) e os idosos institucionalizados (50,7%) apresentaram a maior prevalência de solidão. A revisão de 189 artigos revelou fatores importantes relacionados à solidão. Em geral, os resultados desta pesquisa mostraram que quase um em cada quatro idosos no mundo se sente sozinho. Diante da associação da solidão com diversos fatores de saúde, clínicos e sociais, incluindo depressão, ideação suicida e mortalidade, e do aumento previsto da população idosa, profissionais de saúde mental e formuladores de políticas públicas devem desenvolver e implementar intervenções voltadas para o alívio da solidão entre os idosos.

A escritora Heloísa Paiva, autora de “50+ Desperte para a vida e pare de sofrer”, cita o isolamento social como fator de risco significativo para a saúde mental de mulheres na menopausa e pós-menopausa, fases da vida que muitas vezes coincidem com mudanças em suas conexões sociais e familiares. “Manter relações de amizade é essencial não apenas para reduzir o risco de solidão, mas também para promover o bem-estar físico, já que as mulheres com uma rede de apoio emocional tendem a cuidar melhor da saúde, a se engajar em atividades físicas e procurar suporte médico quando necessário”.

Outro aspecto mencionado pela autora em seu livro é que as amizades também são importantes para enfrentar os desafios que surgem durante a meia-idade, como mudanças hormonais e de humor. “As amigas, especialmente aquelas que estão passando pelas mesmas experiências, podem oferecer uma forma única de apoio e compreensão, ajudando a aliviar o estresse e a ansiedade relacionados à transição da menopausa”, diz – reforçando que cultivar amizades na maturidade pode ser claramente um fator protetor contra o desen­volvimento de depressão e ansiedade, condições mais prevalentes entre as mulheres nessa fase da vida.  

Heloísa revela oito atitudes simples, com efeito cumulativo, que ajudam a transformar intenção em vida social concreta:

  1. Fazer uma lista com o nome de três pessoas que conhece superficialmente e enviar uma mensagem objetiva, propondo um café ou um bate-papo virtual para estreitar laços.
  2. Recuperar amizades antigas com leveza. Procurar antigas amigas nas redes sociais e sugerir um reencontro simples, sem cobrança.
  3. Criar um ritual de constância. Por exemplo, um encontro quinzenal fixo com uma amiga ou um grupo pequeno para trocar confidências.
  4. Criar oportunidades de novas amizades com contexto, como cursos, clubes de leitura, voluntariado, caminhadas, atividades em que as pessoas convivem por um bom tempo.
  5. Trocar quantidade por qualidade, reduzindo interações automáticas e investindo em conversas que aprofundam, com perguntas reais e escuta ativa.
  6. Praticar reciprocidade, ou seja, pedir apoio quando necessário e oferecer ajuda sempre que possível. Confiança cresce no vai e vem.
  7. Cuidar do atrito inicial de todo relacionamento. Exemplo: combinar data e local para encontros, facilitar a logística e começar pequeno. Conexão se constrói mais por frequência do que por intensidade.
  8. Tratar conexão como cuidado, não como luxo. Ela precisa de espaço, de tolerância, de flexibilidade e de valorização como qualquer prioridade de saúde.

“A amizade na vida adulta depende menos de ‘química instantânea’ e mais de contexto repetido. Ver a mesma pessoa ao longo do tempo, em um ambiente seguro, faz a intimidade crescer. Para 2026, a proposta pode ser concreta: por 30 dias, agendar uma reconexão por semana e iniciar uma nova conversa presencial em algum espaço de interesse comum”, sugere a escritora.