Justiça Papudinha
Anderson Torres e Silvinei pegam sol no “jardim carcerário” da Papudinha
Ex-ministro da Justiça e ex-diretor da PRF dividem o espaço sob escolta permanente quando pegam sol em área verde anexa ao batalhão da PM
29/12/2025 09h49
Por: Samuel Barbosa Fonte: Notícia Certa

Sob o céu aberto e em silêncio quase absoluto, Anderson Torres e Silvinei Vasques têm passado parte de seus dias no chamado “jardim carcerário”, uma área verde anexa ao 19º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal (19º BPM), conhecido como Papudinha. O espaço, reservado a presos com prerrogativa de Estado-Maior, funciona como local de banho de sol, sempre sob a vigilância rigorosa de três policiais militares, atentos a cada movimento dos dois detentos.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso desde 25 de novembro, agora divide a mesma cela com o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, que chegou ao batalhão na tarde do último sábado (27/12), por volta das 16h30, em voo da Polícia Federal. Ele desembarcou em Brasília trazendo apenas uma pequena mala de viagem, sinal de uma prisão que, embora aguardada nos bastidores, foi executada de forma rápida.

No “jardim carcerário”, não há grades visíveis, mas a liberdade é apenas aparente. O espaço verde contrasta com a tensão do momento: Torres e Silvinei caminham lentamente, tomam sol e conversam pouco, sempre acompanhados de perto pelos policiais responsáveis pela custódia. O local integra o Núcleo de Custódia da Polícia Militar (NCPM), que atende exclusivamente policiais militares e autoridades com direito a cela especial.

Chegada à Papudinha

A chegada de Silvinei Vasques à prisão foi registrada em vídeo e divulgada pelo Metrópoles.

Condenado a mais de 24 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, ele estava em liberdade até então, aguardando o desfecho definitivo do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, já cumpria medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de deixar o país.

A situação mudou drasticamente após a tentativa de fuga. Na madrugada de 26 de dezembro, Silvinei foi preso no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, em Assunção, no Paraguai. Segundo as investigações, ele tentou embarcar utilizando documentos falsos, incluindo um passaporte paraguaio em nome de Julio Eduardo Fernandez, com a intenção de seguir para o Panamá e, depois, para El Salvador.

A violação da tornozeleira eletrônica emitiu alertas automáticos às autoridades brasileiras e internacionais. A ação já vinha sendo monitorada, e a adidância da Polícia Federal no Paraguai comunicou previamente a polícia local. A prisão foi efetuada por agentes paraguaios, que identificaram a tentativa de burlar os controles migratórios. Diante dos fatos, o ministro do STF Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva de Silvinei Vasques.

Mesmo destino

Conforme a Procuradoria-Geral da República (PGR) expôs em denúncia à Justiça, Silvinei Vasques integrou o núcleo 2 da trama golpista e teria coordenado ações que dariam suporte ao plano de golpe de Estado. Ele chegou a ser preso preventivamente em 9 de agosto de 2023, mas foi solto no último dia 8 de agosto por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes.

A investigação da trama golpista apontou que Silvinei coordenou a realização de bloqueios em rodovias, no dia da eleição em 2022, cujo objetivo era dificultar a votação em distritos eleitorais onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria a preferência do eleitorado. A ação foi enquadrada como crime de prevaricação e violência política.

Agora, Anderson Torres e Silvinei Vasques compartilham não apenas a cela, mas também a rotina rígida da Papudinha. O banho de sol no jardim carcerário, vigiado de perto, tornou-se um símbolo silencioso da queda de dois nomes que ocuparam cargos centrais na segurança pública do país durante o governo Bolsonaro.