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Saúde mental é foco de atenção psiquiátrica no Brasil
Entre 2022 e 2024, casos de afastamento por transtornos mentais cresceram de 201 mil para 472 mil no país; Dra. Fernanda Ramallo, psiquiatra, desta...
02/10/2025 13h34
Por: Robson Silva De Jesus Fonte: Agência Dino

A saúde mental é considerada o maior problema de saúde no mundo por 45% da população, segundo número do relatório global World Mental Health Day 2024, noticiado pela Ipsos. Em 2018 este índice era de 27%. No Brasil, 54% da população aponta a saúde mental como principal problema, frente a 18% em 2018, e 77% já refletiram sobre a importância de cuidar desse aspecto.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados pelo site da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, indicam que os benefícios por incapacidade temporária ligados à saúde mental no trabalho no país passaram de 201 mil em 2022 para 472 mil em 2024. Entre os afastamentos de forma geral, os episódios depressivos correspondem a 25,6% dos casos, a ansiedade a 20,9% e a depressão recorrente a 12%.

Dra. Fernanda Ramallo, médica psiquiatra, aponta fatores que explicam o crescimento dos transtornos mentais e a urgência de cuidado para a saúde mental.

"De 2020 para cá, especialmente por conta da pandemia, houve um aumento no isolamento social e no medo da morte e da finitude. Essa escalada de sintomas exige atenção urgente porque, sem tratamento, tende à cronicidade, traz piora funcional, sobrecarrega os serviços de saúde e, no limite, eleva as taxas de suicídio", alerta.

Para a especialista, o ritmo de vida acelerou e muita gente perdeu a capacidade de estabelecer limites, sobretudo com o teletrabalho e o convívio familiar intenso.

"O uso de tecnologia se tornou excessivo e os vínculos sociais se enfraqueceram. As pessoas ficaram retraídas, voltadas para a própria casa e família por medo, e depois isso virou hábito", destaca.

A médica pontua que muitas pessoas ainda encontram barreiras para buscar ajuda psiquiátrica, seja por estigma ou por falta de informação. Para ela, a comunicação acessível pode aproximar a psiquiatria das pessoas e facilitar o acesso ao cuidado.

"Transformar termos técnicos em linguagem simples para que mais pessoas consigam acessar informação desmistifica o tratamento. Além disso, é um caminho para mostrar que na psiquiatria existem as patologias mais graves e incapacitantes, mas a maioria dos transtornos — ansiedade, insônia, depressão, compulsão alimentar, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) — acometem todos", revela a especialista.

Para a Dra. Fernanda Ramallo, estratégias de acolhimento e escuta ativa são eficazes para fortalecer o vínculo entre médico e paciente, favorecendo o engajamento e a adesão ao próprio tratamento.

"É fundamental mostrar empatia, validar os sentimentos, não desmerecer, nem subestimar a capacidade de recuperação do paciente, apresentar explicações claras sobre o que está acontecendo e o porquê da escolha de um tratamento e não outro", explica.

Protocolos individualizados e tratamentos multidisciplinares

A psiquiatra ressalta que o tratamento psiquiátrico moderno vai muito além da prescrição de medicamentos e que protocolos individualizados têm sido aplicados para tratar a raiz dos transtornos, e não apenas os sintomas.

"O tratamento mais moderno para a psiquiatria atualmente é personalizado, orquestrando um conjunto de tarefas para alcançar o melhor resultado para o paciente. Isso inclui a parte nutricional, relacionada à atividade física, suplementações, rotina, higiene do sono e, por fim, as medicações associadas com a psicoterapia", pontua.

As estratégias complementares, como atividade física regular, aporte nutricional adequado associado à suplementação, terapia ocupacional, suporte familiar, rede de apoio e sono de qualidade, podem contribuir para um cuidado integral e resultados mais duradouros para os pacientes.

"Todas essas estratégias não substituem, naturalmente, o acompanhamento médico, mas elas potencializam os resultados e aumentam a autonomia do paciente no processo de recuperação", acrescenta.

Dra. Fernanda Ramallo destaca que o paciente vivencia transformações mais significativas quando o tratamento vai além da medicação e passa a contemplar todo o seu contexto de vida. "O olhar e cuidado integral sobre o indivíduo favorecem, além da cura, uma melhor autoestima, uma melhor capacidade de se relacionar e de lidar com alguns desafios, porque soluciona a raiz do problema. Essa mudança amplia a percepção de que a saúde mental não é só ausência de doença, mas a presença de um propósito e qualidade de vida".

Tratamentos multidisciplinares na recuperação e manutenção da saúde mental envolvem outras especialidades médicas, além do psiquiatra, como psicólogo, nutricionista, educador físico e, às vezes, endocrinologista, dependendo da condição do paciente.

"O cuidado multidisciplinar promove resultados mais sólidos e sustentáveis, foca em promover melhora completa do paciente, bem-estar e, principalmente, prevenção de recaída. Um atendimento global da saúde faz com que o paciente tenha uma chance muito menor de recaída da doença no futuro", destaca.

De acordo com a psiquiatra, a saúde mental deve ser entendida como eixo central da saúde, pois sua negligência provoca impacto em todo o corpo. Para ela, é fundamental priorizar a prevenção e a psicoeducação, oferecendo compreensão ao paciente sobre sua condição e tratamento, em vez de apenas prescrever medicação.

"Investir em protocolos de tratamento individualizados não é só uma necessidade clínica, é uma estratégia de impacto social e com essa estratégia podemos reduzir o sofrimento e gerar uma sociedade mais equilibrada e saudável", conclui.

Para saber mais, basta acompanhar a Dra. Fernanda Ramallo em seu site oficial: https://fernandaramallo.com.br/