
Em meio à crise de segurança no Rio de Janeiro e o debate sobre segurança pública no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaminhou, nesta sexta-feira, ao Congresso, o Projeto de Lei Antifacção, com medidas para combater o crime organizado. O envio do texto ocorreu três dias após a megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, que deixou ao menos 121 mortos.
O projeto atualiza a Lei de Organizações Criminosas, com a criação do termo "facção criminosa", o que não existe na legislação brasileira. Com a qualificação desse crime, homicídios cometidos em prol ou a serviços do crime organizado passam a ser classificados como hediondos, com penas de 12 a 30 anos. Isso significa que o condenado pela Lei Antifacção não terá direito a pagar fiança e não poderá receber indultos.
A proposta também prevê penas de oito a 15 anos de prisão se a atuação da organização visar o controle de territórios ou atividades econômicas, mediante o uso de violência, coação ou ameaça.
Também conforme o texto, juízes podem determinar que provedores de internet e telefonia e empresas de tecnologia viabilizem o acesso a dados de geolocalização do acusado de envolvimento em facção criminosa.
Outro ponto é o que prevê a possibilidade de infiltração de agentes policiais em empresas investigadas por suspeita de serem fachada de facções para lavagem de dinheiro. Há, ainda, a autorização para o governo federal criar o Banco Nacional de Facções Criminosas. Esse sistema ficará responsável por armazenar informações de faccionados condenados ou investigados.
Lula comentou, nas redes sociais, o encaminhamento do projeto. "Assinei e envio hoje ao Congresso Nacional o Projeto da Lei Antifacção, elaborado pelo Governo do Brasil, que eleva para até 30 anos as penas para quem integra as facções criminosas que dominam muitos bairros e comunidades", escreveu.
Ele enfatizou que o projeto cria mecanismos visando aumentar o poder do Estado e das forças policiais para investigar e asfixiar financeiramente as facções. "Além disso, garante instrumentos que blindam os órgãos públicos da atuação de membros desse tipo de organizações criminosas", disse.
"A proposta se soma à PEC da Segurança Pública, que enviamos ao Congresso em abril, com ações integradas entre os órgãos federais, estaduais e municipais no combate aos criminosos. As facções só serão derrotadas com o esforço conjunto de todas as esferas de poder", frisou no X. "Diferenças políticas não podem ser pretexto para que deixemos de avançar. Por isso, confio no empenho dos parlamentares para a rápida tramitação e aprovação desses nossos projetos. As famílias brasileiras merecem essa dedicação."
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, enfatizou que o projeto "é uma contribuição que nós estamos fazendo em diálogo com os demais Poderes, sobretudo com o Legislativo".
A chegada do Projeto de Lei Antifacção deve acirrar o embate entre a base governista e a oposição neste mês. Parlamentares contrários à gestão Lula querem aprovar um projeto de lei que enquadra as facções criminosas PCC e CV e milícias como terroristas. O atual secretário de Segurança do governo de São Paulo, Guilherme Derrite, vai até se licenciar e voltar temporariamente à Câmara para relatar o projeto, de autoria do deputado Danilo Forte (União-CE), apresentado em março deste ano.